domingo, 16 de março de 2008

"Tenho a psicose do canto" Correio da manhã


Aos 25 anos diz-se lutadora e pronta para vencer no canto. Lançou um album onde junta Mozart e Donizetti a REM e U2. E sonha mais com os holofotes do Scala de Milão do que com a maternidade.
Começou a cantar quando ainda mal sabia andar. Fez teatro infantil e patinagem artistica. Liza Veiga nunca gostou de estar parada. Descobriu o fado, participou num concurso televisivo onde ganhou cinco semanas consecutivas e assim se habituou a enfrentar as cãmaras.
Na entrada para a idade adulta disseram-lhe que o seu futuro estava no canto lirico e assim se tornou soprano.
Depois de um constante vai e vem entre Portugal e Alemanha edita o primeiro album, onde mistura a "Flauta Mágica" de Mozart a "Pride" dos U2.

Bono Vox convive bem com Mozart?

Se tivesssem tido essa oportunidade acho que se dariam muito bem...

Juntou-os no seu disco.

È verdade. Quis transpor os registos mais diversos para uma orquestra, e acredito que ao ouvirmos o album na integra quase não se destinguem diferenças temporais. Há uma separação em termos de tecnica vocal da minha parte e por isso poderia dizer-se que existem duas Lizas.

Por que é que o fez?

Queria mostrar que se fizermos tudo muito genuino e com o coração pode-se perfeitamente adaptar a voz a dois estilos diferentes. Para alem disso teria de conceber algo inovador ou sería apenas mais uma cantora lirica a gravar um album. Por ser ainda nova achei possivel e aceitável inovar.

De um modo geral as pessoas são resistentes á mudança. Não teve medo de arriscar á primeira?

Ainda tenho. Mas quero acreditar que quem compre o album tenha uma abertura mais futurista da musica clássica. Acima de tudo sou cantora de opera e espero ter aliciado o publico mais jovem para a musica clássica.

Suponho que Cars não sejam do seu tempo...

Por acaso não, foi-me imposto pelo produtor e editora , mas sem duvida que resultou.

Esteve seis dias a gravar em Praga. Era impossivelfaze-lo com uma orquestra Portuguesa?

Não. A escolha da orquestra aconteceu unicamente porque já havia realizado três digressões na Alemanha, já estava familiarizada com os musicos .

Será que tambem não teve que ver com o misticismo daquela cidade?

Isso só ajudou a tornar as condições perfeitas. Já tina estado em Praga aquando dos ensaios para o "Fantasma da Opera". A cidade é lindissima, tem um carisma e uma energia unicos.

Tem algum momento em especial?

Entre muitos que a cidade proporcionou, um que me marcou relativamente ao album foi os 52 musicos no final das gravações aplaudirem com os arcos nas estantes...jamais esquecerei.

Passa muito tempo fora. Sente-se emigrante?

De forma alguma, apesar dos longos periodos longe sou muito portuguesa e sinto imensa falta do meu país durante essas temporadas.

Adaptou-se bem ao estilo de vida germânico?

Quando lá cheguei pela primeira vez vivi uma fase um poco dificil devido á cultura e educação, ao rigor alemão, o frio era insuportável, a comida nem comento...no entanto o publico alemão conquistou-me por completo e com o tempo tentei compreender e aprendi a ser um pouquinho alemã o que faz com que hoje já esteja completamente adaptada e integrada na sociedade germânica.

Como é o desprendimento das raízes?

Como artista quando decidi iniciar uma carreira tive de me mentalisar de tudo o que tería de abdicar em prol do canto, e saber todas as dificuldades que teria de superar. No meu caso foi uma mentalização drástica pois começei a cantar profissionalmente muito nova e ainda no inicio do curso de canto. Só me apercebi verdadeiramente das minhas poções quando passei o primeiro Natal e Final de Ano sózinha num quarto de hotel.

Há uma luta interior?

Constante. E como artista sinto uma instabilidade emocional muito grande, já para não falar dos altos e baixos de uma carreira mas todos os artista vivem com essa insegurança.

Impõe metas?

Sim obviamente mas já não de uma forma obsseciva...vivo um dia de cada vez esperando o que a vida tem para me surpreender.

Onde é que entra a patinagem artistica?

Surgiu a par do teatro infantil aos 4 anos, após ter tentado o Ballet onde não foi possivel devido a um problema num tendão que me impossibilitava estar de pontas. Na patinagem fiz um bom percurso e fiz diversos campeonatos, mas acabei por desistir numa fase já de sofrimentode dores agudas nas rótulas.

Chegou a participar num programa televisivo.

Sim, na TVI o "Luzes da Ribalta", ganhei cinco semanas consecutivas a cantar fado. Na verdade foi algo muito positivo pela experiencia em televisão.

Não tem receio de vir a arrepender-se de olhar para trás e ver que abdicou de muita coisa em prol da profissão?

Espero que não, na verdade amo o que faço e apenas aproveito as oprtunidades que a vida me tem dado, não sou de virar costas. De resto vivo o dia a dia e o momento.

Correio da manhã-6 de Fevereiro 2005

www.chiadorecords.com


O SONHO


"Primeiro é preciso que se amem, depois é preciso que o digam, depois que o escrevam e depois que o façam"

Vitor Hugo

PARA TI, DOCE LIZA !


PARA TI, DOCE LIZA!
A ideia que se possa defenir "Homo", dando-lhe a qualidade de Sapiens, isto é, de um ser razoável é pouco sábia.
Homo é tambèm Demens: manifesta uma afectividade extrema, conclusiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças de humor, traz em si uma fonte permanente de delirio, crê uma virtude de sacrificios "sangrentos", dá corpo, existencia, poder a mitos e Deuses da sua imaginação. Há um ser humano um vasto expólio de "Ubris", a desmesura dos Gregos.
A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie e cegueira. Mas sem as desordens da afectividade e as imrrupções do imaginário, sem a loucura do impossivel não existiria entusiasmo, criação, invenção, amor, musica e poesia...
Do mesmo modo, o ser humano é um animal não só insuficiente em razão mas também dotado de semi-razão.
Temos necessidade de controlar Homo-Demens para exercer um pensamento racional, argumentado, critico, complexo.
Temos necessidade de inibir em nós o que Demens tem de mortifero. Temos necessidade de sabedoria, que nos pede prudência, temperança, humildade, diplomacia, cortesia e desprendimento.
Prudência sim, mas não será esterilizar as nossas vidas ao evitar o risco a todo o custo? Temperança sim, mas será necessário evitar a experiencia com a "consumação" do êxtase? Desprendimento, sim mas será necessário renunciar aos laços do amor ou da amizade?
O mundo em que vivemos é talvez um mundo de aparências, a espuma de uma realidade mais profunda mais profunda que escapa ao tempo, ao esforço, aos nossos sentidos e ao nosso entendimento. Mas o nosso mundo dá separação, dá dispersão, dá finitude, e tambem dá atracção do encontro, da exaltação. Estamos completamente imersos neste mundo que é o sofrimento das nossas felicidades e dos nossos amores.
Não sentir, é evitar o sofrimento mas também o regozijo. Quanto mais aptos estamos para a felicidade mais vulneráveis ficamos para a infelicidade, "a felicidade deita-se aos pés da infelicidade".
Estamos condenados ao paradoxo de conservar em nós, simultâneamente, a consciência da vacuidade do nosso mundo e a plenitude que nos pode trazer a vida.
Se a sabedoria nos pede para nos desprender-mos do mundo da vida, será ela verdadeiramente sábia? Se aspiramos á plenitude do amor, seremos nós verdadeiramente loucos'
Reconheço o amor como o cúmulo da união da loucura e da sabedoria, isto é, que no amor, sabedoria e loucura não só são inseparáveis como se entregam uma á outra.
Reconheço poesia não só como modo de expressão literária, mas como um estado dito "segundo" que nos surge do fervor, da admiração, da comunhão da sabedoria, da exaltação e claro do amor que em si contem todas as expressões do estado "segundo."
A poesia está liberta do mito e da razão trazendo em si a sua união. O estado poético transporta-nos através da loucura e da sabedoria.
O amor é parte da poesia da vida, amor e poesia identificam-se! Há que assumir o amor! Contudo há que evitar que a prosa absorva as nossas vidas que são tecidas de prosa e poesia.
A sabedoria pode problematizar o amor, mas o amor e a poesia podem podem reciprocamente problematizar a sabedoria.
Devemos fazer de tudo para desenvolver a nossa racionalidade, mas é no próprio desenvolvimento que a racionalidade reconhece os limites da razão e desenvolve diálogos com o irracional.
O excesso de sabedoria torna-se loucura e a sabedoria só evita a loucura misturando-se com a loucura da poesia e do amor.
O nosso presente está em busca de sentido mas o sentido não é originário e não vem do nosso exterior.
Jamais devemos cessar em nõs o diálogo entre a sabedoria e a loucura, ousadia e prudência, economia e despesa, temperança e consumação, desapego e apego.
È aceitando a tensão dialógica que a permanência e antagonismo entre amor-poesia e sabedoria-racionalidade se completam.
Viver é sentir a vida com o minimo dos medos aos quais nos for possivel permitir, sermos tomados.
"CARPE DIEM" 9/3/2008