segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Pop Opera - Jornal o Expresso



Liza não é rapariga para ficar nervosa, mas naquele dia nem nem o seu espirito de nariz em pé evitou um incómodo remoinho no estomago. Eram 10h da manhã e a rua dos Caetanos, no Bairro Alto, enchia-se de jovens com pretensão a cantores, a maioria com extenso curriculo em formação musical. Liza Veiga, então ainda chamada Lisa Mara, menina de Torres Vedras, 19 anos surgia perante o juri de admissão ao Conservatório Nacional de musica de Lisboa com apenas dois meses de preparação em canto lirico. Depois de uma juventude dedicada ao Fado decidira ser cantora de opera.
Lembra-se de cada pormenor daquele dia em que firmou uma opção de vida. Levantou-se as 7h da manhã, falou pelos cotovelosem jeito de aquecimento e rumou a Lisboa. Enquanto esperava ouvia a prova dos outros concorrentes, duzentos e tal para apenas 17 vagas. A sua vez chegou depressa, só ela perante o friso do juri e uma ária em Italiano para cantar-não dominava nem o género nem a lingua. Ficou em primeiro lugar.
Passaram seis anos. Desde então já realisou uma duzia de récitas de opera "A Flauta Mágica" de Mozart, no papel de Rainha da Noite, em vários palcos; cantou a Kate do musical de Cole Porter "Kiss me Kate", no teatro S. Luiz; esteve em digressão na Alemanha, durante cerca de um ano, com a opereta "O Fantasma da Opera", no papel de protagonista Christine.
"Percebi imediatamente que tinha uma voz enorme cheia de potencialidades", lembra o tenor e professor José Carlos Xavier, que integrava o juri do conservatório, tornando-se depois o seu unico tutor. "Tem uma sumptusidade vocal e uma intuição rara, que a leva a assimilar tudo com enorme facilidade, e uma apetência para o palco fora do normal".
Liza reconhece a atracção pelas luzes da ribalta, fruto talvez da aprendizagem infantil. Aos quatro anos começou na patinagem artistica, aos seis foi para o teatro, aos 14 iniciou-se no Fado que a levaría a cantora habitual no restaurante "O Forcado".
"Um dia estava afónica com gripe e tinha uma apresentação e ninguem para me substituir. Tive de tomar uma injecção de cortisona", conta Liza. Para confirmar o regresso da voz acompanhou Shara Brightman e Andrea Bocelli que tocavam no leitor de CD. "Fiquei espantada com os agudos que consegui atingir. Foi assim que descobri os meus dotes operisticos". A herança musical só a encontra na avó de Lamego , que cantava para os ceifeiros na época das colheitas.
Em seis anos de conservatório, que termina dentro de alguns meses, aprendeu a potenciar o dom. Leu tudo sobre opera, tornou-se fluente em italiano e alemão-linguas essenciais para perceber as principais arias- descobriu no chá de gengibre o estimulante das cordas vocais. A par de voz, trabalhou tambem a imagem, que se quer vaidosa , de Diva. O corpo esguio, de longo cabelo Ruivo e imperfeições maquilhadas é vestida em exclusivo pela estilista Susana Agostinho.
"Este ano ficou entre as melhores 8 vozes femininas, em 152, no Concurso Internacional de Canto de Bilbau", lembra o professor com orgulho. Não demonstra igual entusiasmo pelo CD que Liza veiga lançou recentemente, onde convivem arias de opera com êxitos de pop-rock. "Encarei esta mistura com cepticismo, até com alguma critica, mas depois achei interessante. Se até os três tenores o fazem...", explica o professor que trabalhou com a aluna os temas clássicos.
Liza sabia que a ideia não era consensual ou sequer apreciada no meio clássico em que começara a entrar, sabia era arricado em Portuga, onde o mercado lirico e inexistente. Mas ela, impulsiva, impetuosa, avançou e tornou-se a primeira soprano pop Portugues. O CD homónimo, gravado com a Orquestra Filarmónica da Républica Checa, junta "Sete Mares", dos Sétima legião, com "La Traviata" de Verdi, "Imagine de John Lennon com o Adágio de Albinoni entr muitos todos em registo lirico. "O meu sonho é viver a cantar opera em Portugal. E isso sim é um desafio"
Revista Unica 22 Janeiro 2005 Texto de Raquel Moleiro

2 comentários:

Pikas disse...

O cd era um risco, mas ouvi-lo hoje é uma dádiva.
Tenho tanto orgulho em ti Diva.

E´strano...e' strano!!! disse...

"Os diamantes não passam de pedaços de carvão que atingiram o objectivo"
Minnie Richard